Desconhecidos: uma dedicatória

Dedicatória da monografia (A TRÁGICA RESISTÊNCIA XOKLENG NO ALTO VALE

DO ITAJAÍ ATÉ 1914)


                  Era uma tarde de maio do ano de 2000, fresca com o céu límpido e azul, em Florianópolis.                     Parecia uma tarde normal como todas as outras, o comércio, o policiamento, o governo que despachava tudo dentro da ordem estabelecida... Mas, eu convicto que não era, seguia junto a uma mega passeata de servidores, estudantes universitários e professores da Rede Pública Estadual.
O vulto de milhares de pessoas causou espanto, as ruas então pararam. Imprimia a idéia de que o mundo havia parado para nos observar. Sentia que estava participando de um momento muito importante na história desse país, força da união e da indignação. Nunca a idéia de exploração de minha classe esteve tão evidente.
Sem querer, nossos olhares desviaram-se à margem, à calçada. Ali se encontrava, montava-se o cenário comovente da realidade de milhões de brasileiros, quase anônimos. E foi nesse instante, com assombro, o meu olhar tocou no brilho dos olhos de três atentos espectadores. Alienados, pareciam assistir a história passar, sem, no entanto, poder alcançá-la. Eram dois vendedores ambulantes maltrapilhos, um negro e o outro pardo, e ao lado, sentada na calçada uma índia, que segurava nos braços duas crianças.
                Foi então, que cheguei à conclusão de que minha classe possui conhecimentos, ou melhor, instrumentos para conquistar alguns de seus direitos, força e certo apoio político para lutar, não é uma casta. Mas, há uma classe que compreende milhões de brasileiros, que nem instrumentos para lutar dispõem. Sofrem calados. São quase anônimos. São brasileiros sem Pátria.

               Esses brasileiros sem pátria são resultados de um processo histórico de conquistas e dominação. Esse processo se inicia no século xv e xvi, com as conquistas européias pelo mundo. A situação desses marginalizados é incompreendida e, parcela da sociedade brasileira cultiva preconceitos que atualmente são difundidos pelas redes socais. Ideologias que criticam, por exemplo, as políticas públicas que visão a diminuição dessas disparidades.

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